Insider trading é crime? Entenda como funciona (2024)

O preço de uma ação listada na Bolsa de Valores reflete as informações disponíveis e existem regras para que sejam acessíveis a qualquer investidor, desde grandes gestores até acionistas minoritários, simultaneamente. Entretanto, nem sempre essa regra, que busca trazer uma assimetria das informações disponíveis – ou seja, ninguém saber mais antes e se beneficiar com isso – é respeitada. Quando há “informações privilegiadas”, isso pode ser configurado como crime de insider trading.

Como isso pode causar lucro ou prejuízo a investidores, existem regras específicas para coibir essa prática, além de previsões legais e penalizações para evitar que isso aconteça. Entenda os detalhes sobre o insider trading no Guia do InfoMoney. Siga a leitura e entenda tudo sobre o assunto!

O que é Insider trading?

A tradução literal do termo em inglês é “Informação Privilegiada”. É quando alguém tem conhecimento prévio de dados relevantes sobre determinado valor mobiliário que possa, de alguma forma, impactar a decisão do investidor de comprar, ou do detentor de vender ou manter determinado papel, ou que venha a influenciar o comportamento do preço do título no mercado de capitais.

E, com isso, se aproveitar desse privilégio para obter lucro ou vantagem, para ele próprio ou para outra pessoa ou grupo de pessoas em operações no mercado de ações. Aproveitando-se da informação, portanto, garante ampla vantagem indevida sobre quem ainda não dispõe de tal conhecimento sobre determinado fato relevante sobre o ativo financeiro.

Como acontece o Insider trading?

O acesso a esse tipo de informação privilegiada geralmente é de quem está direta ou indiretamente envolvido com a companhia aberta emissora do papel. Acionistas controladores, presidentes, diretores, membros do conselho, funcionários com acesso a dados relevantes, entre outros, ficam sabendo de muita informação que pode resultar em oscilações no mercado.

Essas informações, se vazadas, podem comprometer o equilíbrio de condições entre os participantes do mercado. Também pode ocorrer vazamento de informações em ambientes fora das companhias, por meio de profissionais ou empresas terceirizados com acesso a todo ou a parte do conteúdo sensível do cliente.

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Situações que envolvam, por exemplo, abertura ou aumento de capital, novas emissões, planos de investimentos ou desinvestimentos, fusões e aquisições, resultados com lucro ou prejuízo, troca de comando, descoberta de novas tecnologias, riscos de mercado, segredos de justiça, entre outros dados estratégicos, devem chegar ao mercado simultaneamente, de forma clara e transparente para todos, por meio de Fato Relevante, ou comunicado ao mercado.

Essa é uma obrigação de diretores e administradores de companhias abertas, definida pela Lei 6.404/76 (conhecida por Lei das SAs). Isso acontece, sobretudo, quando o fato tenha capacidade de influir na movimentação do mercado para cima ou para baixo, valorizando ou desvalorizando determinado papel.

Obrigadas por lei e pelas regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), as companhias abertas têm a obrigação de tornar público todo e qualquer acontecimento que possa resultar em algum impacto – desde o mínimo que seja no mercado.

Os casos de Insider trading ocorrem justamente no intervalo entre a ocorrência do fato e sua divulgação por meio de publicação de Fato Relevante, pelo qual a companhia aberta torna pública toda informação relevante para seus acionistas e investidores.

Insider trading é crime?

Informação é poder! Mas no mercado de ações também pode ser crime. Quem tiver informação obtida de forma privilegiada e usá-la para auferir lucro, antes de torná-la pública para todo o mercado, estará agindo contra a lei, a mesma que criou a CVM e regulamentou o mercado de valores mobiliários no Brasil.

Estamos falando do artigo 27-D, da Lei 6.385, de 7 de dezembro de 1976, que é claro nesse aspecto. Define Insider trading como “a utilização de informação relevante ainda não divulgada ao mercado, da qual determinada pessoa tenha conhecimento e deva manter sigilo, capaz de propiciar, para si ou para outrem, vantagem indevida, mediante negociação,em nome próprio ou de terceiro, com valores mobiliários”.

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O crime é tipificado ainda pelo artigo 155 da Lei 6.404/76 (Lei das SAs) e pelo artigo 13 da Instrução 358/2002, da CVM.

Qual é a punição e quem investiga?

Quem se beneficia ou garante vantagem a um terceiro mediante divulgação de informação relevante antes de disponibilizá-la ao mercado está cometendo um crime, de acordo com a Lei 6.385/76. Como consequência da prática de Insider trading, a pessoa pode pegar de um até cinco anos de cadeia.

Além disso, quem comete essa prática ilegal está sujeito a multa de até três vezes o valor do lucro obtido de forma ilícita, mediante o uso criminoso de informação privilegiada. Mas vale lembrar que a criminalização da prática só foi possível a partir de outubro de 2001, por meio da lei 10.303, que modificou artigos da lei 6.385/76.

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Na esfera da regulação do mercado de valores mobiliários, cabe à CVM a fiscalização permanente do acesso público a informações sobre os valores mobiliários negociados e as companhias que os tenham emitido. Cabe à autarquia fiscalizar e investigar casos de Insider trading, por meio de inquéritos conduzidos pela Superintendência de Processos Sancionadores (SPs) e impor penalidades aos infratores das leis 6.404/76 e 6.385/76.

Mas o crime também tem reflexos no âmbito penal e gera ação pelo Ministério Público Federal (MPF) e inquérito e investigação da Polícia Federal. Acordo de cooperação entre a CVM , MPF e a PF garante o envio ao MP e à polícia de quaisquer elementos de suspeitas de operações com utilização indevida de informações privilegiadas.

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A PF, mediante autorização judicial, tem poderes para fazer operações de busca e apreensão de provas da prática do crime contra o mercado de capitais, e até mesmo prisões de suspeitos do ilícito.

Qual a diferença entre Insider trading e front running

O primeiro tem origem, normalmente, dentro da companhia emissora do ativo mobiliário. Como explicamos acima, o aproveitamento antecipado do conhecimento prévio de algo que tenha reflexo no comportamento do papel no mercado é crime de Insider trading.

Os casos de front running, ao contrário, ocorrem fora da companhia, geralmente, por agentes do mercado com capacidade de influenciar investidores ou que tenham conhecimento prévio de movimentos relevantes de seus clientes. Quando usam esses dados para sair na frente, tomando posições que os privilegiem, estão, igualmente, cometendo crimes.

Mas, basicamente, a matéria-prima de ambos os ilícitos é a informação vantajosa em relação aos outros atores do mercado. Por exemplo, no primeiro caso, se um administrador de uma companhia sabe que a empresa vai ter lucro acima do esperado, pode comprar o máximo de ações da companhia na baixa para vender na alta, sabedor, antecipadamente, da valorização futura do papel.

No caso de front running, um exemplo típico é quando um agente do mercado fica sabendo que um cliente irá investir uma soma considerável de recursos em determinado papel e sai na frente para comprar o máximo que puder da ação, antes da operação, também certo de que terá lucro com a movimentação de mercado que a ação de seu cliente pode provocar.

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Casos de Insider trading no Brasil

Há quem diga que Insider trading nunca foi novidade no mercado brasileiro. Mas os casos têm vindo à tona com mais frequência a partir do início das operações de pregões eletrônicos na bolsa, nos anos 2000, o que facilitou a fiscalização.

Órgãos fiscalizadores da B3 detectam operações suspeitas, que são informadas à CVM. Dados da autarquia mostram que foram investigados mais de 50 casos, entre 2008 e 2018, envolvendo mais de 150 pessoas, das quais pouco mais de 60 foram punidas, em geral, com multas.

No âmbito criminal, no entanto, apenas três processos foram parar na Justiça, com apenas duas prisões, desde que a prática virou crime de fato.

Romano Ancelmo Fontana e Luiz Murat

O primeiro deles envolveu o então membro do conselho de administração da Sadia Romano Ancelmo Fontana e o diretor de relações com os investidores da empresa, à época, Luiz Murat. Em 2006, antes de a Sadia tentar fazer um take over hostil (oferta não solicitada) para adquirir o controle da sua concorrente, a Perdigão, os dois executivos da Sadia compraram ações da Perdigão na Bolsa de Nova York, tendo lucro de US$ 200 mil.

O processo contra os dois foi aberto em 2009. Em 2011, foram condenados à prisão, mas tiveram as penas convertidas em serviços comunitários, além de multas e do impedimento de ambos de atuar no mercado de capitais.

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Eike Batista

Outro caso famoso de Insider trading que foi parar nos tribunais envolveu o empresário Eike Batista. Outrora controlador de um império de empresas de diversos ramos de atividade, com ofertas de ações em operações milionárias, acabou sucumbindo em prejuízos de quase R$ 1 bilhão. Conhecedor da situação do conglomerado, Eike tratou de vender as suas ações antes do anúncio de investimentos menores do que os projetados, evitando, assim, de forma ilícita, um prejuízo de mais de R$ 10 milhões.

Eike foi condenado a seis anos e oito meses de reclusão e à multa de R$ 409 milhões pela operação de Insider trading. O empresário entrou com recursos na Justiça e continua livre, mas proibido de ocupar cargos em empresas de capital aberto.

Em 17 de maio de 2017, os irmãos Wesley e Joesley Batista ganharam o noticiário nacional pela divulgação de áudio do então presidente Michel Temer, sobre suposta compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, preso no âmbito da operação Lava Jato. Esse escândalo provocou uma grade crise política e financeira no país. O episódio, que ficou marcado como Joesley Day, fez o dólar disparar, e as ações da companhia despencar, com a possibilidade de renúncia de Temer.

A descoberta de que os dois controladores da JBS e outras empresas do grupo compraram US$ 1 bilhão à véspera da divulgação do áudio levou os dois à prisão pelo crime de Insider trading. À época, também se atribuiu aos empresários a venda de ações antes de a crise ser deflagrada, que teria evitado, de forma desleal, um prejuízo de R$ 138 milhões. Os empresários passaram pouco tempo na cadeia, mas foi o primeiro caso no Brasil de prisão preventiva por causa de Insider trading.

Insider trading é crime? Entenda como funciona (2024)

FAQs

How is insider trading a crime? ›

When Is Insider Trading Illegal? Insider trading is deemed illegal when the material information is still non-public and comes with harsh consequences, including potential fines and jail time. Material non-public information is defined as any information that could substantially impact that company's stock price.

How does insider trading work? ›

Insider trading is the selling or purchase of stocks and other securities based on non-public, material insider information. People found guilty of Illegal insider trading can receive up to 20 years of jail time and a $5 million fine.

Why is most insider trading against the law responses? ›

Insider trading is illegal because it violates the principle of a fair and transparent financial market.

How long do you go to jail for insider trading? ›

Under Section 32(a) of the Securities Exchange Act of 1934, as amended by the Sarbanes-Oxley Act of 2002, individuals face up to 20 years in prison for criminal securities fraud and/or a fine of up to $5 million for each "willful" violation of the act and the regulations under it.

How can you prove insider trading? ›

Prosecutors must prove that the defendant actually received information, that the information was both “material” and “nonpublic,” and that the information directly influenced the defendant's trade.

How many people get convicted for insider trading? ›

Insider trading happens when a person or company uses information that is not available to the public to make a profit or avoid losses in financial markets. The US Securities and Exchange Commission prosecutes approximately 50 insider trading cases per year, and there are harsh penalties of up to 20 years in prison.

How do they detect insider trading? ›

Every day, FINRA's Insider Trading Detection Program uses sophisticated technology and analytics to monitor 100% of trading in stocks, options and bonds for potentially suspicious activity around material news events, resulting in hundreds of referrals to the SEC and law enforcement every year.

Does insider trading hurt anyone? ›

Insider trading, as opposed to other forms of informed trading, can harm the integrity of the markets and lead to serious legal implications for the individuals involved. It also victimizes everyday investors who don't have access to the same information as the insiders.

What is an example of insider trading? ›

Hypothetical Examples of Insider Trading

A government employee acts upon his knowledge about a new regulation to be passed which will benefit a sugar-exporting firm and buys its shares before the regulation becomes public knowledge.

Why is it hard to prosecute insider trading? ›

Insider trading is a type of market abuse when an advantageous trade is made based on material nonpublic information. The issue is there's not a specific law defining what insider trading is, which makes it difficult to prosecute cases as they arise.

How do you fight insider trading? ›

3. How to prevent insider trading
  1. 3.1 Define inside information. ...
  2. 3.2 Create insider lists. ...
  3. 3.3 Watch out for irregular trading patterns. ...
  4. 3.4 Implement a whistleblowing platform. ...
  5. 3.5 Impose pre-clearance procedures. ...
  6. 3.6 Educate employees on insider trading.
Jan 31, 2024

What law stops insider trading? ›

The Stop Trading on Congressional Knowledge (STOCK) Act prohibits members and employees of Congress from using "any nonpublic information derived from the individual's position ... or gained from performance of the individual's duties, for personal benefit".

How serious of a crime is insider trading? ›

For corporate executives and others wondering “Is insider trading a felony,” the short answer is yes. Insider trading violations are often criminally prosecuted as felonies. Accordingly, the penalties can be extremely serious, leading not only to professional and financial ruin but also significant jail time.

Who investigates insider trading? ›

The SEC monitors insider trading in various ways. For example, it uses market surveillance systems to monitor trading volume. If no new public information has been issued, but trading volume rises substantially, it raises a red flag.

How much is the fine for insider trading? ›

The SEC imposes a variety of fines and penalties for making illegal insider trades based on MNPI. The maximum criminal fine for individuals is $5,000,000. The maximum fine for a business entity whose securities are publicly traded is $25,000,000. The maximum prison sentence for an insider trading violation is 20 years.

Why is insider trading unethical and illegal? ›

The main argument against insider trading is that it is unfair and discourages ordinary people from participating in markets, making it more difficult for companies to raise capital. Insider trading based on material nonpublic information is illegal.

What is the Offence of insider trading? ›

The civil offence of insider dealing is where a person possesses inside information and uses that information by acquiring or disposing of (for his/her own account or for the account of a third party), directly or indirectly, financial instruments to which that information relate.

What is the danger of insider trading? ›

Insider trading, as opposed to other forms of informed trading, can harm the integrity of the markets and lead to serious legal implications for the individuals involved. It also victimizes everyday investors who don't have access to the same information as the insiders.

What is the most severe criminal penalty for insider trading? ›

1[15G. Penalty for insider trading.-- If any insider who,

shall be liable to a penalty 2[which shall not be less than ten lakh rupees but which may extend to twenty-five crore rupees or three times the amount of profits made out of insider trading, whichever is higher].]

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